quinta-feira, 17 de junho de 2010

A maçã de olho no Brasil

Grandes redes de varejo investem em lojas da marca Apple no País

Steve Jobs finca sua bandeira no mercado brasileiro com a ajuda de quatro grandes redes de varejo: Livraria Saraiva; Grupo Herval; Grupo TVM; e Fast Shop. Juntas elas já respondem pela administração de 13 lojas da Apple no Brasil
Por Anna Gabriela Araujo

No início de maio, a Apple anunciou um novo recorde: um milhão de iPads vendidos nos Estados Unidos, 28 dias após o lançamento da tablet que promete revolucionar o mercado de computadores portáteis. Enquanto Steve Jobs comemorava o sucesso de seu novo gadget, no Brasil ressurgiam rumores sobre a possível instalação de uma fábrica da Apple em território nacional. A empresa não confirma, mas o fato é que se a história sair do papel a fábrica verde-amarela da Apple poderá ser o pólo de distribuição dos produtos da marca para toda a América Latina. Esse seria um investimento estratégico capaz de derrubar a principal barreira de popularização de Macs, iPhones e iPods no País: o preço, que ficaria menor por conta da produção local e da redução na carga de impostos.
Os números do mercado nacional poderiam justificar tal investimento. Em março, a IDC (International Data Corporation) apresentou um estudo indicando que, apesar da crise mundial financeira, a venda de notebooks para usuários domésticos no Brasil registrou um crescimento de quase 20% no ano passado. De acordo com a pesquisa Brasil Quarterly PC Tracker da IDC, 11 milhões de notebooks e desktops foram comercializados em 2009. Para este ano, a previsão da IDC é de que o mercado brasileiro de PCs deva crescer 16%, atingindo 12,8 milhões de unidades comercializadas, com destaque para o aumento nas vendas de computadores portáteis. Luciano Crippa, analista do setor de PCs da IDC, explica que o bom desempenho da categoria está relacionado à isenção de impostos para o segmento e à facilidade de novas linhas de crédito, principalmente no varejo e nos programas nacionais de inclusão digital para professores. “No segmento doméstico temos um resultado claro da substituição dos desktops pelos portáteis, que oferecem mobilidade, portabilidade e autonomia de bateria cada vez maior”, acrescenta Crippa.
O levantamento aponta ainda que o mercado total de computadores teve queda de 6,4% em relação a 2008 devido ao baixo investimento do segmento corporativo no setor. Por outro lado, as vendas do primeiro computador continuaram crescendo na classe C, que já começa a investir em notebooks. Já as classes A e B deixaram de comprar desktops para adquirir notebooks para um segundo ou terceiro membro da família.
Diante desse cenário otimista, a equipe de Steve Jobs começou a plantar aqui as primeiras sementes da maçã mais desejada do mundo. Em parceria com quatro grandes redes de varejo (Livraria Saraiva, Grupo Herval, Grupo TVM e Fast Shop), a Apple já conta com 13 lojas no Brasil, que foram inauguradas nos últimos dois anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia. (ver quadro na página ao lado)
Batizadas de APR (Apple Premium Resellers), essas unidades atuam como revendas da marca, trabalhando com toda a gama de computadores Mac, além da linha iPod e acessórios. A concept store da Apple oferece ainda aos consumidores uma espécie de “test-drive” em todos os produtos da marca, além de assistência técnica, demonstrações e treinamentos. Todo o projeto da APR foi desenvolvido com o objetivo de levar o “mundo do Mac” até o consumidor, por meio de experiências diferenciadas no ponto de venda.
Seguindo essa filosofia e sem muito alarde na mídia, apenas no mês de março duas APRs foram inauguradas no Rio Grande do Sul. Em abril foi a vez da Bahia ganhar uma revenda da marca.
A primeira loja exclusiva de produtos da Apple em Salvador, a iTown, é um investimento da Saraiva, maior rede de livrarias do País, que firmou um contrato com a Apple para a instalação de uma APR no shopping Iguatemi. Essa foi a forma encontrada pela Saraiva de aproveitar a área antes ocupada por uma loja da Siciliano, rede comprada pelo grupo em 2008. Agora, a empresa estuda a possibilidade de transformar outras seis unidades da Siciliano em lojas da Apple no País. E já começaram as obras da próxima iTown a ser inaugurada. Instalada no BarraShopping (RJ), a loja será a maior APR do Brasil.

Recorde de vendas
Já o Grupo Herval foi responsável por fincar a bandeira da maçã na Região Sul, com a abertura das lojas iPlace nas cidades de Porto Alegre e Caxias do Sul. O investimento faz parte de uma ação de reposicionamento dessa tradicional empresa gaúcha, que tem a segunda maior rede de varejo multimarcas do Rio Grande do Sul (63 lojas no Estado e mais duas em Santa Catarina), além de atuar também nos segmentos de consórcio, seguros, material de construção, químico, móveis e colchões. “Ao completar 50 anos de mercado, entregamos a conta do grupo para a agência Paim, que montou um plano de marketing para ampliar nossa participação de mercado”, comenta Germano Grings, vice-presidente do Grupo Herval. Assim, a partir de abril, as lojas Herval passaram a trabalhar com o sistema de autosserviço e ganharam uma nova logomarca, a TaQi. “Em paralelo, firmamos uma parceria com a Apple, que tem se mostrado uma empresa diferenciada no varejo global, tanto com produtos diferenciados de alto desempenho quanto pelo modelo de loja, que oferece soluções completas para o cliente.”
Grings acrescenta ainda que hoje a Apple é a empresa mais rentável dentro do mercado americano e tem um grande potencial de crescimento no Brasil. “Quando inauguramos a iPlace de Porto Alegre, ficamos próximos de bater o recorde mundial de vendas da Apple registrado no período de lançamento de uma APR”, comemora o executivo. Em três dias, a iPlace vendeu algo em torno de 300 computadores, por conta de uma promoção de inauguração, que ofereceu 15% de desconto nos equipamentos.
Especialistas estimam que, atualmente, cada uma das 13 lojas da Apple no Brasil venda em média 30 máquinas por semana. “Ainda assim, as APRs são lojas de alto valor agregado, ou seja, grande faturamento com um resultado baixo. Contudo, com as vendas de acessórios e complementos de linha exclusivos, acreditamos ter um bom retorno de investimento no médio e longo prazos”, avalia o VP do grupo, que em breve vai inaugurar outra loja da marca, em Florianópolis (SC). “É muito simples trabalhar com a Apple, que é uma marca desejada em todo o mundo, com produtos repletos de recursos tecnológicos. Basta seguir a filosofia da empresa, cujo marketing é dividido em três pilares: o próprio produto; o cuidado na sua distribuição; e a satisfação do cliente final.”

* O texto completo desta reportagem você confere na edição impressa da revista Marketing, publicada em maio de 2010.



Pablo Souza

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